Certo homem gostava de passar o seu tempo a caçar pássaros
para comer. As pobres aves, assim que o viam, abriam asas e fugiam o mais
rapidamente possível.
Apesar da agitação, nem todos estavam atentos. Num raminho
de uma árvore, um jovem rouxinol continuava o seu canto, alheio ao que se
passava em seu redor.
Sorrateiramente, o homem foi-se aproximando e, num gesto
rápido, capturou o jovem pássaro.
Apesar do seu tamanho, o rouxinol tentou negociar a sua
liberdade.
_ Por favor, liberta-me!_ Exclamou ele_ Sou tão pequeno e
tão magro que continuarás com a mesma fome! Devolve-me a liberdade e em troca
dar-te-ei três conselhos que te serão muito úteis.
_ Hum… _ disse o homem_ que conselhos podes tu ter para mim?
Que poderei eu aprender contigo? És bem mais útil no meu estômago…
_Para! Que tens tu a perder? _ Interrompeu o rouxinol_ É
muito simples, dar-te-ei o primeiro conselho quando ainda estiver na tua mão. O
segundo quando estiver no primeiro ramo dessa árvore, para que possas voltar a
apanhar-me se o conselho não te convier, e o terceiro dar-to-ei quando estiver
a voar no céu, por ser o mais importante.
Embora não estivesse muito convencido, o homem acabou por
concordar.
_ O primeiro conselho é que nunca deves arrepender-te se
perderes alguma coisa _ proferiu o rouxinol.
O homem refletiu um pouco sobre o conselho e libertou o
pássaro. Na verdade, pensou ele, é um conselho bem sábio, pois o desprendimento
dos bens materiais é o verdadeiro segredo da liberdade.
Sentindo-se já livre, o rouxinol pousou no primeiro ramo da
árvore e deu-lhe o segundo conselho:
_ Se o que te contarem for absurdo, não acredites a menos
que te deem uma prova.
O homem estava deveras admirado, afinal o pássaro era muito
mais sábio do que muitos homens. É comum ao ser humano deixar-se iludir e
enganar devido à vaidade ou à bajulação.
_ Então e qual é o terceiro conselho? _Questionou o homem.
Já a esvoaçar pelo céu, o rouxinol gritou:
_ Tenho, no estômago, dois grandes diamantes do tamanho dos
teus punhos. Se me tivesses matado, terias ficado rico!
Louco de raiva, o homem pôs-se a atirar pedras ao pássaro.
Depois, sentou-se e começou a chorar, lamentando a sua sorte por ter sido tão
estúpido e se ter deixado enganar tão facilmente.
Pousado no cimo de uma árvore, o rouxinol observava o homem.
Por fim exclamou:
_ És mesmo um imbecil! Dei-te três conselhos e nada
aprendeste com eles: disse-te para nunca de arrependeres de nada e já estás
arrependido por me teres libertado; disse-te para não acreditares no absurdo e
acreditaste que um pássaro tão pequeno como eu poderia ter dois enormes
diamantes no estômago! Por seres tão cego e presunçoso nunca poderás voar livre
no céu como eu!
Agostinha Monteiro
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