sábado, 14 de julho de 2012

Contos de Esperança

Pronto! A capa do meu próximo livro já está feita!
Dia 7 de agosto será feito o lançamento, no Hotel do Vale em Aguiar da Beira.

Capa do livro de homenagem a Jorge Amado


Aqui fica a capa do livro de Homenagem a Jorge Amado, editado no Brasil, onde participei.
Para os curiosos, o livro pode ser adquirido na editora Perse.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Livro de homenagem a Jorge Amado


Já está confirmado!

Jorge Amado será homenageado em livro na 22ª Bienal de São Paulo (Brasil)



O livro Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – Homenagem ao Centenário de nascimento de Jorge Amado (1912-2012) em que participei, será lançado no stand da PerSe Editora, em 10 de agosto de 2012, das 19 às 22h, no mesmo dia do nascimento do grande Jorge Amado. A obra é o resultado de um concurso internacional patrocinado pelo jornalista jequieense Valdeck Almeida de Jesus e traz artigos, crónicas, redações e poemas de 62 escritores de várias partes do mundo.


CONCURSO LITERÁRIO

O certame acontece desde 2005 e tem o apoio do Núcleo Baiano da União Brasileira de Escritores, que se junta à justa homenagem a Jorge Amado. Totalmente patrocinado pelo escritor Valdeck, o prémio já publicou treze livros com mais de 1.100 textos diversos de autores do Brasil, Argentina, Espanha, Portugal, Estados Unidos, Moçambique, China, França, Inglaterra, Japão, Suécia e Suíça, num trabalho sobre-humano de difusão da literatura e da língua portuguesa.

 
22ª BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE SÃO PAULO 2012
Dia 09 a 19 de Agosto de 2012, das 10 às 22 horas
Parque de Exposições Anhembi
Avenida Olavo Fontoura, 1209
Bairro Santana – São Paulo – SP

quarta-feira, 20 de junho de 2012

IX Prémio Valdeck Almeida de Jesus


Aqui fica o resultado da crónica que fiz para participar neste Prémio Literário.
Foi selecionada para ser editada num livro em homenagem a Jorge Amado, no Brasil!


Os autores abaixo relacionados terão seus textos incluídos numa antologia, cuja publicação deve ser feita até dezembro de 2012.
O concurso teve apoio no Núcleo Baiano da União Brasileira de Escritores.


Abraão Leite Sampaio (Governador Valadares–MG): Jorge Leal Amado de Faria, nosso... “Amado Jorge”
Adriana Quezado (Fortaleza-CE): Cabelo Melado de Gabriela
Agostinha Monteiro (Vila Nova de Gaia – Portugal): Jorge Amado
Alice Gödke (Campo Largo-PR): Nosso Jorge Amado
Amanda D’Andrea Löwenhaupt (Pelotas–RS): Dona Flor e seus dois maridos
Ana Claudia de Souza de Oliveira (Curitiba-PR): Jorge “O Bem” Amado (convidada)
Ana Rosa de Oliveira (Recanto das Emas-DF): Obrigado ao Jorge!
André Kondo (Caraguatatuba-SP): Visita à casa de Jorge Amado
Beatriz Moraes Ferreira (Itaperuna–RJ): Jorge Amado: Como esquecê-lo?
Betty Silberstein (São Paulo-SP): Jorge Amado (1912-2012)
Bruno Monteiro Flores (Rio de Janeiro–RJ): Vozes do Sertão e Terra adubada com sangue
Carlos Souza de Jesus (Salvador-BA): Jorge Amado projetou o nome da Bahia para o mundo
Clarissa Damasceno Melo (Itajuípe-BA): Bahia!
Crispim Santos Quirino (Maragogipe-BA): Uma crônica (possível) sobre Jorge Amado
Danilo Souza Pelloso (Lucélia-SP): Obá de Xangô (convidado)
Denílson da Silva Araújo (Parnamirim-RN): A Construção Econômica e Social de Jorge Amado: O País do Carnaval, Cacau e Suor; Capitães da Areia; Os Velhos Marinheiros
Dhiogo José Caetano (Uruana-GO): Quero ser um Jorge Amado
Diogo Cantante (Aveiro – Portugal): É Páscoa ter-te Amado e Jorge Amado (convidado)
Diogo Rocha Braga (Lauro de Freitas-BA): João Jorge Amado e Grilo em: Os felizes 100 anos de um Baiano Arretado e Jorge Amado. Um caso de amor com a Bahia
Domingos Alberto Richieri Nuvolari (Osasco–SP): Amado foi Jorge, que desenhou suas raízes escrevendo!
Ed Carlos Alves de Santana (Salvador-BA): Uma nova Salvador e Jorge Amado
Edweine Loureiro da Silva (Souka-shi Saitama, Japão): Salvador de um Amado Jorge
Elson Carvalho Alves (São Paulo-SP): Seu Jorge da Bahia
Eulália Cristina Costa e Costa (São Luís-MA): O destinado e o destinatário
Gil Nascimento (Salvador-BA): Homem da terra, do céu e do mar
Gustavo Zevallos (São Paulo-SP): Julien e o Amado Amigo Jorge
Isadora Sabar (Salvador-BA): O queridinho dos baianos
Janio Felix Filho (Itaituba-PA): Um pedaço do mar
Josafá de Orós (Campina Grande–PB): Crônica de uma paixão anunciada: Jorge, amado!
Júlio César Freid’Sil (Rio de Janeiro-RJ): Um Jorge Amado (convidado)
Karline da Costa Batista (Aracati-CE): As mulheres de Amado
Léa Costa Santana Dias (Salvador–BA): “NEM O ÓDIO, NEM A BONDADE”: JORGE AMADO E A LUTA PROLETÁRIA NO ROMANCE CAPITÃES DA AREIA
Lénia de Fátima Nunes Aguiar (Ilha Terceira, Açores, Portugal): Bahiano Romancista
Lima Macieira (Salvador-BA): Não quero falar de um Jorge baiano qualquer
Lucas Expedito Claro Prado (Taiaçu–SP): Leitor brasileiro honrado carrega consigo o Jorge Amado
Lúcia Aeberhardt (Biel, Suíça): Homenagem acróstica ao centenário do escritor (convidada)
Marcelo Allgayer Canto (Cachoeirinha-RS): Jorge Amado, escritor sem igual
Marcio Santos (Sales Salvador-BA): O imaginário “Amadiano”
Maria da Conceição Braga de Castro (Salvador-BA): Centenário de uma eternidade chamada Jorge
Maria das Graças Evangelista Santos (Salvador-BA): O empolgante universo literário do escritor: Jorge Amado
Maria de Lourdes Matos Letra Tomé (Londres, Grã-Bretanha): Jorge (para sempre) Amado
Maria Fernanda Reis Esteves (Setúbal – Portugal): Brasil para mim tem fragrância de cravo e canela
Maria José de Oliveira Santos (Alagoinhas-BA): Saberes e sabores em Dona Flor (convidada)
Maria Luiza Falcão (Belo Horizonte-MG): O amor do Amado
Marilene Maria de Oliveira (São Bernardo do Campo-SP): Primeiro dia em Salvador
Marilene Oliveira de Andrade (Varzedo-BA): Sem-Pernas: o retrato de muitas crianças baianas
Marina Fernanda Veiga dos Santos de Farias (São Luís-MA): O mais Amado de todos
Neva Scarazzati de Oliveira (São Paulo–SP): Jorge Leal Amado de Faria
Nubia Estela Strasbach (Contenda-PR): O namoro
Olmira Daniela Schaun da Cunha (Itaboraí-RJ): Jorge, o Amado
Paula Cristina Fraga Alves (Amadora – Portugal): Carta a Jorge Amado
Quitilane Pinheiro dos Santos (São Mateus–ES): Jorge Amado e o cinema
Renata Leone (São Paulo–SP): Capitães de Areia e Concreto
Renata Rimet (Salvador–BA): Um país descrito por Jorge
Roberto Augusto de Piratininga Ferrari (Carapicuíba–SP): Homenagem a Jorge Amado
Roseli Princhatti Arruda Nuzzi (São Paulo-SP): Jorge Amado em O Ser Brasileiro
Silas Correa Leite (Itararé-SP): Jorge Amado – Para o Mundo Artístico-Cultural, O Maior e Mais Popular Escritor Brasileiro de Todos os Tempos
Silvia Helena Machuca (Piracicaba-SP): O Evangelho Segundo Jorge Amado
Silvio Parise (Nova York, Estados Unidos): Jorge Amado: uma breve análise biográfica
Solange Gomes da Fonseca (Curitiba-PR): Linguagem Literária: uma análise na obra Tieta do Agreste de Jorge Amado
Varenka de Fátima Araújo (Salvador-BA): Jorge Amado
Vó Fia - Maria Aparecida Felicori (Nepomuceno-MG): Passeio utópico com Jorge Amado
Zeca São Bernardo (São Bernardo do Campo-SP): Axé, Babá...


Estou ansiosa por ver o livro!


quinta-feira, 31 de maio de 2012

Prémio Literário Valdeck Almeida de Jesus - 2010

Aqui fica a capa do livro em que participei com o poema "Vida",  publicado pela Editorial Giz, no Brasil.



O que é uma lenda?



A lenda insere-se na «literatura de tradição popular».
Como refere Lemos (2008), a lenda «pode ser transmitida sob a forma de texto oral ou escrito, contado, recontado e recriado por narradores, perante os seus auditórios, ou dirigidos a leitores, transmissão na qual existe um espaço de recriação por parte do recetor.»
Deste modo, é natural que as lendas contadas num determinado lugar já possam ter sido ouvidas, com outros contornos, noutras localidades, mas o essencial mantém-se.
Poderia proceder à definição mais erudita do termo, mas como este texto tem uma vertente pedagógica, decidi utilizar uma noção mais elementar, para que todos possam entender o seu conceito.
        Assim, pode-se dizer que existem várias características que definem a lenda. Uma delas é a da veracidade. As lendas são objeto de crença, não podendo a sua veracidade ser posta em causa. O despoletar de uma lenda pode surgir de uma determinada ocorrência que se foi enriquecendo com a imaginação. Por este motivo pode ser considerada como uma expressão do imaginário de uma comunidade, revelando os sentimentos de uma cultura. Como salienta Lemos (2008) «a lenda flutua num espaço imaginário que não se pode desvincular das raízes que estabelece com as comunidades ou estas com as lendas.»
Outra característica importante da lenda prende-se com o espaço e o tempo. As narrativas, mesmo quando importadas, agarram-se de tal maneira às terras que contemplam importantes referentes temporais e espaciais, os quais nos levam para determinados cenários culturais e históricos, passíveis de serem reconhecidos pelo recetor/ leitor. Os factos tidos como acontecidos são facilmente localizados no espaço e no tempo.
Como menciona Frazão (1988) «a lenda assenta em fundamento histórico provável ou possível ou que, sem ter verosimilhança, é contada como facto histórico, modificado pela intervenção do maravilhoso popular, cristão ou pagão, com ação localizada no espaço e no tempo ou apenas no espaço ou no tempo. (p.11)»
Em suma, em todas as localidades ocorrem certos factos / histórias reais que o tempo teima na diluição de pormenores ou na sua substituição por outros, dando origem a um produto meio real, meio fantástico: a lenda.

Ainda sobre as lendas, podemos classificá-las como lendas religiosas, lendas de entidades míticas, lendas etiológicas, lendas históricas e lendas de mouros e mouras.
As lendas religiosas incluem narrativas cristãs referentes à intervenção de Nosso Senhor, Nossa Senhora ou de outros Santos.
As lendas de entidades míticas são as que têm como personagens o diabo, fantasmas, gigantes, bruxas, feiticeiras, sereias, monstros e todos os seres que pertencem ao maravilhoso popular.
As lendas etiológicas são aquelas que tentam explicar um nome, uma forma ou um fenómeno físico.
As lendas históricas são, como o nome indica, as que se referem a personagens da História, a factos de valor militar ou político e a locais e monumentos com tradições.
As lendas de mouros e mouras são as que surgem à volta destas personagens. Normalmente, estas aparecem encantadas em fontes, rios, penedos, antas ou grutas.

Bibliografia:
FRAZÃO, Fernanda. (1988). Lendas Portuguesas. Lisboa: Mutilar.
LEMOS, E. (2008). Estudo Temático das Lendas de D.Afonso Henriques. Tese de Doutoramento (não publicada).

 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Homenagem a Jorge Amado

    Se Jorge Amado ainda estivesse vivo, faria este ano 100 anos.
    Para celebrar esta data, aqui fica este singelo texto.

    Jorge Amado não é um escritor brasileiro. Jorge Amado é um escritor do mundo.
   Como cidadão do mundo viveu, exilado em países da América Latina e da Europa, mas os seus textos revelam o seu coração, as suas raízes brasileiras.
   Abordando temáticas diversificadas, escrevendo para públicos heterogéneos, procurou sempre incutir mensagens vitais, alertando sempre para as injustiças sociais da vida. Algumas não chegaram a ser compreendidas no tempo pretendido, mas outras tornaram-se intemporais.
    É o caso da obra Capitães da Areia.
   Centrando-se numa realidade que se queria escondida, Jorge Amado revela ao mundo a problemática dos “meninos da rua” brasileiros, o que lhe vale, em 1937, a apreensão e destruição da sua primeira edição. Só em 1944 é que seria editada a segunda edição, que lhe serviria de catapulta para o estrelato no estrangeiro.
    Dono de uma clareza de escrita sem precedentes, bebia no quotidiano o segredo da sua inspiração, descrevendo com uma beleza e um lirismo inigualável o drama que aqueles jovens assaltantes sem-abrigo vivenciavam nas ruas de Salvador.
    Com as suas palavras, ele consegue transformar a visão dos acontecimentos, fazendo com que leitor fique do lado dos meninos, ladrõezinhos que lançavam ondas de terror na praia. Sim, porque esses meninos são apenas “criaturas inocentes”, produto final da educação e da atenção que uma sociedade demasiado voltada para si criara.
    Apesar das contrariedades da vida, estes meninos têm sentimentos puros, sentimentos de lealdade e de proteção que obrigam o leitor a travar uma luta interior. E estes meninos continuam a existir pelo mundo fora…
   Jorge Amado não deixa ninguém indiferente, conseguindo amolecer o mais duro dos corações, dando novos contornos às adversidades da vida, que continuam a subsistir e a proliferar por todo o mundo.


A Lenda das Caldas da Cavaca

    Conta-se que, há muito tempo atrás, antes das termas da Cavaca existirem, costumava passar por aquelas bandas um caçador e o seu cão, o qual padecia de um mal de pele, apresentando chagas espalhadas pelo corpo, passando o tempo a coçar-se e esfregar-se.
    Certo dia, o caçador fez pontaria a uma rola e esta caiu dentro de um charco de água, que estava camuflado por umas silvas. O cão, ao ouvir o barulho da queda da rola, atira-se para o local, mergulha nas águas do charco e devolve a rola ao seu dono.
    A partir daí, a coceira do cão diminuiu e este, sentindo-se aliviado, mergulhava várias vezes nas águas daquele charco.
    Sempre que passavam junto do charco, o cão atirava-se lá para dentro e a sua coceira ia desaparecendo, bem como as chagas do seu corpo.
    Terminada a época da caça, o cão já não apresentava qualquer vestígio da doença de pele. Estava completamente curado.
    O caçador associou a cura do seu cão aos mergulhos naquelas águas e foi contando a história a todos os conhecidos.
    Começou a espalhar-se pelas redondezas a notícia de que naquele lugar havia uma água milagrosa. A notícia chegou aos ouvidos do proprietário daquelas terras e este decidiu fundar ali umas termas.

O Coração


Na ânsia de alcançar a essência da vida,


Deixo-me embalar pelas emoções,

Pelo tempo que destila as recordações,

Dedilhando as cordas do coração.

Sinto o teu olhar pousar sobre mim,

Numa amálgama de sentimentos sem fim,

Calcorreando caminhos por desbravar.

Por fim, atingida pela explosão dos sentidos

Coloco gentilmente de lado a razão,

Orientando-me pelo mapa do coração.

Inspiração



Vem !
Vem pegar na minha mão

Para dar vida ao lápis,

Traçar linha de amor,

De bondade e de esperança.

Vem!

Vem trazer novas alegrias

Para desenhar um texto,

Contar experiências vividas,

De passados e presentes.

Vem!

Dá-me a mão…

Conduz-me neste percurso

Sinuoso e estreito

Da poesia,

Da vida.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Ser Clandestino

No início do século XX, vivia uma mulher muito bela e vistosa de nome Luísa Chaves na pacata aldeia da Cavaca, uma pequeníssima terra pertencente ao concelho de Aguiar da Beira.


Dos vários casamentos que teve, contam-se pelo menos três, nasceram 6 filhos: 4 rapazes e 2 raparigas.

O segundo filho, o António, que viria ao mundo no atribulado ano de1915, desde cedo deu azo à sua teimosia e rebeldia. Habituado às duras labutas da terra, entre o cultivo e a pastagem, enraizou-se na resinagem.

Foi como resineiro que conheceu a sua futura esposa, no concelho de Celorico da Beira. Na época as longas distâncias eram feitas a maior parte das vezes a pé, o que obrigava as pessoas a pernoitarem pelas terras por onde passavam e a permanecerem vários meses nos locais de trabalho.

Estava o jovem desatento a trabalhar perto das Casas do Rio, na Lageosa do Mondego, quando Cupido o atingiu com a sua maravilhosa seta. Foi um raio fulminante, pois nunca mais ele largou a sua Encarnação. Sendo ele pobre, a família da jovem donzela não permitiu o casamento, mas tal não impediu o namoro, apenas o camuflou.

Num certo dia de feira, aproveitando a confusão do ajuntamento propício a esta actividade, António e Encarnação resolveram fugir. Quando deram pela ausência da rapariga, já o jovem casal ia longe, de regresso às terras de Aguiar da Beira.

Começou desta forma a vivência clandestina deste jovem casal que por falta de meios económicos só viria a contrair matrimónio passados 3 anos.

A família e os amigos da Encarnação estavam em profunda consternação, recusando-se a aceitar o sucedido.

Um primo dela, como era músico, imortalizou o acontecimento no seguinte poema que viria a musicar, cantando-o nos momentos de maior tristeza:





No dia 13 de Junho

Um caso se praticou

O António Resineiro

A Encarnação roubou.



O seu irmão quando soube

Sua vida foi chorar

A culpa foi da mãe

Por a deixar abalar



Adeus ó Casas do Rio

Adeus lugar do Sobreiro

Lá fugiu a Encarnação

Com o António Resineiro.





Já não bebemos mais vinho

À saúde da Encarnação

E do António Resineiro

Virou as costas ao Povo

Despediu-se do Sobreiro.





Já nas terras de Aguiar da Beira, o jovem casal lutava contra as amarguras da vida. A miséria em que viviam espelhava-se em todo o Portugal, pois poucos eram os que ganhavam para comer.

Nos anos 30 e 40 as condições económicas e sociais eram miseráveis em todo o país. Apesar da pequena revolução industrial sentida, o povo continuava a passar fome. Este facto acentuou-se com a II Grande Guerra e neste seguimento começou o maior fluxo de emigração de sempre.

António já tinha visto familiares seus emigrarem para o Brasil, inclusive a sua irmã mais velha. Foi tentado em seguir-lhe os passos, mas o amor pelas suas filhas impediu-o.

Para sobreviver, tal como muitos conterrâneos, foi trabalhar para o minério. A jorna era pequena, por isso, pela calada da noite, desviava o minério que podia, sendo depois vendido no mercado negro. Neste negócio “escuro” conheceu intermediários que o aliciaram para outros voos, sempre à margem da lei.

Estávamos nos anos 60, o negócio era conduzir portugueses famintos, à procura de novas oportunidades, para terras mais prósperas. Todos os que podiam emigravam para França, em busca de novos sonhos.

António, acalentando uma vida melhor e sempre na ânsia de obter mais lucros, tornou-se “angariador”. As pessoas procuravam-no para conseguir passar para França. Mas a PIDE não dormia e apertava cada vez mais o cerco junto às fronteiras.

Neste negócio clandestino, António tinha introduzido a sua filha mais nova. Inteligente e determinada, sempre à procura da independência numa época em que as mulheres se assumiam como submissas, com apenas vinte anos, Conceição imiscuiu-se nos meandros que teciam a teia, tornando-se “passadora”. Como mulher conquistou uma larga fasquia do negócio, talvez devido à sua pequena estatura, aos seus lindos cabelos louros e belos olhos azuis que a transfiguravam num anjo, fazendo com que as mulheres e as crianças se sentissem mais confiantes e mais seguras na sua presença. Toda a gente das redondezas recorria a ela, pois nunca falhara o seu alvo. Parecia ser provida de clarividência, pressentindo quando algo de errado se passava e baralhando a polícia.

Em 1969, quando Conceição levava um grupo de pessoas para atravessar a fronteira de Vilar Formoso, foram surpreendidos com tiros disparados pelos “cravineiros”. Todos conseguiram fugir, voltando para trás, mas uma senhora fora atingida, ficando aleijada para sempre. Este episódio viria a atormentar muitas noites da jovem rapariga, mas não lhe tirou a vontade de prosseguir na sua luta.

Apesar do sucedido, António e Conceição continuavam a levar pessoas para França, lutando pelas suas crenças, acreditando que um país opressor nunca seria um grande país, merecedor de pessoas trabalhadoras e leais. Foram várias centenas os que conseguiram chegar ao país desejado, contribuindo de forma significativa para a melhoria das suas condições de vida.

António e Conceição foram presos pela PIDE no final de 1969, ficando na cadeia de Coimbra. Apesar de torturados, nunca denunciaram os companheiros. Saíram, ilibados em 1970, por falta de provas.

Deixaram para trás esta vida de clandestinidade e estabeleceram-se em França. Após vários anos, regressaram a Portugal.

António faleceu em 1990.

Conceição ainda hoje vive em Aguiar da Beira, acreditando num país melhor, sob a bandeira da Democracia.





Agostinha Monteiro