A
lenda insere-se na «literatura de tradição popular».
Como
refere Lemos (2008), a lenda «pode ser transmitida sob a forma de
texto oral ou escrito, contado, recontado e recriado por narradores,
perante os seus auditórios, ou dirigidos a leitores, transmissão na
qual existe um espaço de recriação por parte do recetor.»
Deste
modo, é natural que as lendas contadas num determinado lugar já possam ter sido
ouvidas, com outros contornos, noutras localidades, mas o essencial
mantém-se.
Poderia
proceder à definição mais erudita do termo, mas como este texto tem uma vertente pedagógica, decidi utilizar uma noção mais elementar, para
que todos possam entender o seu conceito.
Assim,
pode-se dizer que existem várias características que definem a
lenda. Uma delas é a da veracidade. As lendas são objeto de crença,
não podendo a sua veracidade ser posta em causa. O despoletar de uma
lenda pode surgir de uma determinada ocorrência que se foi
enriquecendo com a imaginação. Por este motivo pode ser considerada
como uma expressão do imaginário de uma comunidade, revelando os
sentimentos de uma cultura. Como salienta Lemos (2008) «a lenda
flutua num espaço imaginário que não se pode desvincular das
raízes que estabelece com as comunidades ou estas com as lendas.»
Outra
característica importante da lenda prende-se com o espaço e o
tempo. As narrativas, mesmo quando importadas, agarram-se de tal
maneira às terras que contemplam importantes referentes temporais e
espaciais, os quais nos levam para determinados cenários culturais e
históricos, passíveis de serem reconhecidos pelo recetor/ leitor.
Os factos tidos como acontecidos são facilmente localizados no
espaço e no tempo.
Como
menciona Frazão (1988) «a lenda assenta em fundamento histórico
provável ou possível ou que, sem ter verosimilhança, é contada
como facto histórico, modificado pela intervenção do maravilhoso
popular, cristão ou pagão, com ação localizada no espaço e no
tempo ou apenas no espaço ou no tempo. (p.11)»
Em
suma, em todas as localidades ocorrem certos factos / histórias
reais que o tempo teima na diluição de pormenores ou na sua
substituição por outros, dando origem a um produto meio real, meio
fantástico: a lenda.
Ainda
sobre as lendas, podemos classificá-las como lendas religiosas,
lendas de entidades míticas, lendas etiológicas, lendas históricas
e lendas de mouros e mouras.
As
lendas
religiosas
incluem narrativas cristãs referentes à intervenção de Nosso
Senhor, Nossa Senhora ou de outros Santos.
As
lendas
de entidades míticas
são as que têm como personagens o diabo, fantasmas, gigantes,
bruxas, feiticeiras, sereias, monstros e todos os seres que pertencem
ao maravilhoso popular.
As
lendas
etiológicas
são aquelas que tentam explicar um nome, uma forma ou um fenómeno
físico.
As
lendas
históricas
são, como o nome indica, as que se referem a personagens da
História, a factos de valor militar ou político e a locais e
monumentos com tradições.
As
lendas
de mouros e mouras
são as que surgem à volta destas personagens. Normalmente, estas
aparecem encantadas em fontes, rios, penedos, antas ou grutas.
Bibliografia:
FRAZÃO,
Fernanda. (1988). Lendas
Portuguesas.
Lisboa: Mutilar.
LEMOS,
E. (2008). Estudo Temático das Lendas de D.Afonso Henriques.
Tese de Doutoramento (não publicada).
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