Fica aqui o conto publicado na coletânea «Arte pela escrita oito»:
Amor de irmãos
Era uma vez um homem e uma
mulher, que viviam com os seus dois filhos, uma menina e um menino, numa
pequena casa no meio de nenhures.
Recentemente, a sua filha havia
mudado. A criança brilhante e alegre tornou-se taciturna, retraída. Ela já não
falava, não ria, não se sentia feliz ao pentear o seu longo cabelo louro, que
quando emaranhado cobria o seu lindo rosto e escondia os seus belos olhos
azuis. Isto entristecia os seus pais, que não conseguiam encontrar um remédio
para fazê-la voltar a sorrir e a falar
novamente.
Certa manhã, eles encontraram um
velho livro abandonado à porta da casa, mas que estava fechado com um cadeado.
Passaram os sete dias seguintes a tentar abri-lo, mas sempre em vão. Até que no
sétimo dia encontraram uma pequena chave em cima da mesa da cozinha.
O filho logo exclamou:
- Deve ser a chave do livro
velho!
Ele correu imediatamente com a
chave na mão para abrir o cadeado do livro e este, como por magia, abriu-se numa
página onde se podia ler: ". Quando uma pessoa perde o sorriso e a alegria
de viver, apenas uma jornada para além dos mares a pode curar"
O irmão decide levar a sua irmã
para o mar. Mas primeiro tinha que atravessar um deserto. Provisões e garrafas
de água são embalados e armazenadas no jipe da família.
Uma tempestade de areia obriga-os
a parar. Quando o céu volta a ficar claro, eles não reconhecem o caminho. Nem
um único arbusto, nem um único oásis no horizonte. Eles estão perdidos! Os alimentos
e a água começam a escassear. De seguida, o carro fica sem combustível.
Em pânico, o irmão decide deixar
a sua irmã muito enfraquecida sob uma lona, fora do carro, para ir a pé pedir
ajuda. Areia, nada mais além de areia, é o que o rodeia. Um grande medo
apodera-se dele e um turbilhão de lágrimas teima em se abeirar dos seus olhos. De
repente, ele julga avistar um vulto escuro a mover-se na crista de uma duna.
"Uma miragem", pensa ele. Mas logo surge um homem com uns olhos
negros ao seu lado, usando um turbante azul.
- Por favor, ajude-me. Preciso de
água e comida para a minha irmã que está doente._ diz o jovem rapaz.
- Eu posso conseguir isso _
respondeu o homem_ mas de seguida, como forma de pagamento, terá de enfrentar o
terrível Mestre do deserto.
O irmão tem pouca escolha, por
isso concorda.
Imediatamente uma fonte brota a
seus pés, formando uma lagoa com alguns peixes nadando na água clara. Espantado
o rapaz vira-se para agradecer, mas já está sozinho: o misterioso homem tinha
desaparecido.
Ele sacia a sua sede, enche uma
cabaça e parte para junto de sua irmã.
Mas eis que no caminho de
regresso surge à sua frente um esplêndido leão. "Eu sou o mestre do
deserto. Como ousa beber da minha fonte?" Aterrorizado, o jovem balbucia:
_ Desculpa grande Mestre, apenas
quero saciar a sede de minha irmã que está doente. Faço tudo o que pedires, mas
deixa-me salvá-la.
_ O que podes tu fazer por mim?_
retorquiu o magnífico animal.
Nisto o rapaz enchendo-se de
coragem declara:
_Posso ser o teu fiel amigo e a
alegria da minha irmã pode animar os teus dias. Juntos podemos tornar os teus
dias melhores.
O leão tinha pouco a perder e a
coragem do jovem tinha-lhe tocado o coração. Decidiu deixá-lo partir e segui-lo
de longe.
Ao chegar perto da irmã, o jovem
rapaz estendeu-lhe o cantil. A jovem bebeu, mas algumas gotas caíram na areia.
De repente, uma lagoa começa a formar-se e novamente peixes surgem nas águas
claras. Estupefacta, a menina olha para a água, senta-se na margem e apanha uma
concha. Ela encosta-a ao seu ouvido e um sorriso ilumina o seu rosto.
_Olha_ diz ela para o irmão_
ouvir esta música é maravilhosa!
Ela ri, canta, dança, corre na praia. Uma
alegria invade o jovem rapaz e ao longe o leão presencia a cena. Nada mais belo
do que o amor de irmãos!