quinta-feira, 31 de maio de 2012

O que é uma lenda?



A lenda insere-se na «literatura de tradição popular».
Como refere Lemos (2008), a lenda «pode ser transmitida sob a forma de texto oral ou escrito, contado, recontado e recriado por narradores, perante os seus auditórios, ou dirigidos a leitores, transmissão na qual existe um espaço de recriação por parte do recetor.»
Deste modo, é natural que as lendas contadas num determinado lugar já possam ter sido ouvidas, com outros contornos, noutras localidades, mas o essencial mantém-se.
Poderia proceder à definição mais erudita do termo, mas como este texto tem uma vertente pedagógica, decidi utilizar uma noção mais elementar, para que todos possam entender o seu conceito.
        Assim, pode-se dizer que existem várias características que definem a lenda. Uma delas é a da veracidade. As lendas são objeto de crença, não podendo a sua veracidade ser posta em causa. O despoletar de uma lenda pode surgir de uma determinada ocorrência que se foi enriquecendo com a imaginação. Por este motivo pode ser considerada como uma expressão do imaginário de uma comunidade, revelando os sentimentos de uma cultura. Como salienta Lemos (2008) «a lenda flutua num espaço imaginário que não se pode desvincular das raízes que estabelece com as comunidades ou estas com as lendas.»
Outra característica importante da lenda prende-se com o espaço e o tempo. As narrativas, mesmo quando importadas, agarram-se de tal maneira às terras que contemplam importantes referentes temporais e espaciais, os quais nos levam para determinados cenários culturais e históricos, passíveis de serem reconhecidos pelo recetor/ leitor. Os factos tidos como acontecidos são facilmente localizados no espaço e no tempo.
Como menciona Frazão (1988) «a lenda assenta em fundamento histórico provável ou possível ou que, sem ter verosimilhança, é contada como facto histórico, modificado pela intervenção do maravilhoso popular, cristão ou pagão, com ação localizada no espaço e no tempo ou apenas no espaço ou no tempo. (p.11)»
Em suma, em todas as localidades ocorrem certos factos / histórias reais que o tempo teima na diluição de pormenores ou na sua substituição por outros, dando origem a um produto meio real, meio fantástico: a lenda.

Ainda sobre as lendas, podemos classificá-las como lendas religiosas, lendas de entidades míticas, lendas etiológicas, lendas históricas e lendas de mouros e mouras.
As lendas religiosas incluem narrativas cristãs referentes à intervenção de Nosso Senhor, Nossa Senhora ou de outros Santos.
As lendas de entidades míticas são as que têm como personagens o diabo, fantasmas, gigantes, bruxas, feiticeiras, sereias, monstros e todos os seres que pertencem ao maravilhoso popular.
As lendas etiológicas são aquelas que tentam explicar um nome, uma forma ou um fenómeno físico.
As lendas históricas são, como o nome indica, as que se referem a personagens da História, a factos de valor militar ou político e a locais e monumentos com tradições.
As lendas de mouros e mouras são as que surgem à volta destas personagens. Normalmente, estas aparecem encantadas em fontes, rios, penedos, antas ou grutas.

Bibliografia:
FRAZÃO, Fernanda. (1988). Lendas Portuguesas. Lisboa: Mutilar.
LEMOS, E. (2008). Estudo Temático das Lendas de D.Afonso Henriques. Tese de Doutoramento (não publicada).

 

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