quarta-feira, 2 de maio de 2018

O Tolo e o Rouxinol

Aqui fica mais um textinho publicado...


Certo homem gostava de passar o seu tempo a caçar pássaros para comer. As pobres aves, assim que o viam, abriam asas e fugiam o mais rapidamente possível.

Apesar da agitação, nem todos estavam atentos. Num raminho de uma árvore, um jovem rouxinol continuava o seu canto, alheio ao que se passava em seu redor.

Sorrateiramente, o homem foi-se aproximando e, num gesto rápido, capturou o jovem pássaro.

Apesar do seu tamanho, o rouxinol tentou negociar a sua liberdade.

_ Por favor, liberta-me!_ Exclamou ele_ Sou tão pequeno e tão magro que continuarás com a mesma fome! Devolve-me a liberdade e em troca dar-te-ei três conselhos que te serão muito úteis.

_ Hum… _ disse o homem_ que conselhos podes tu ter para mim? Que poderei eu aprender contigo? És bem mais útil no meu estômago…

_Para! Que tens tu a perder? _ Interrompeu o rouxinol_ É muito simples, dar-te-ei o primeiro conselho quando ainda estiver na tua mão. O segundo quando estiver no primeiro ramo dessa árvore, para que possas voltar a apanhar-me se o conselho não te convier, e o terceiro dar-to-ei quando estiver a voar no céu, por ser o mais importante.

Embora não estivesse muito convencido, o homem acabou por concordar.

_ O primeiro conselho é que nunca deves arrepender-te se perderes alguma coisa _ proferiu o rouxinol.

O homem refletiu um pouco sobre o conselho e libertou o pássaro. Na verdade, pensou ele, é um conselho bem sábio, pois o desprendimento dos bens materiais é o verdadeiro segredo da liberdade.

Sentindo-se já livre, o rouxinol pousou no primeiro ramo da árvore e deu-lhe o segundo conselho:

_ Se o que te contarem for absurdo, não acredites a menos que te deem uma prova.

O homem estava deveras admirado, afinal o pássaro era muito mais sábio do que muitos homens. É comum ao ser humano deixar-se iludir e enganar devido à vaidade ou à bajulação.

_ Então e qual é o terceiro conselho? _Questionou o homem.

Já a esvoaçar pelo céu, o rouxinol gritou:

_ Tenho, no estômago, dois grandes diamantes do tamanho dos teus punhos. Se me tivesses matado, terias ficado rico!

Louco de raiva, o homem pôs-se a atirar pedras ao pássaro. Depois, sentou-se e começou a chorar, lamentando a sua sorte por ter sido tão estúpido e se ter deixado enganar tão facilmente.

Pousado no cimo de uma árvore, o rouxinol observava o homem. Por fim exclamou:

_ És mesmo um imbecil! Dei-te três conselhos e nada aprendeste com eles: disse-te para nunca de arrependeres de nada e já estás arrependido por me teres libertado; disse-te para não acreditares no absurdo e acreditaste que um pássaro tão pequeno como eu poderia ter dois enormes diamantes no estômago! Por seres tão cego e presunçoso nunca poderás voar livre no céu como eu!

 Agostinha Monteiro