sábado, 24 de setembro de 2016

Amor de irmãos

Fica aqui o conto publicado na coletânea «Arte pela escrita oito»:


Amor de irmãos

Era uma vez um homem e uma mulher, que viviam com os seus dois filhos, uma menina e um menino, numa pequena casa no meio de nenhures.

Recentemente, a sua filha havia mudado. A criança brilhante e alegre tornou-se taciturna, retraída. Ela já não falava, não ria, não se sentia feliz ao pentear o seu longo cabelo louro, que quando emaranhado cobria o seu lindo rosto e escondia os seus belos olhos azuis. Isto entristecia os seus pais, que não conseguiam encontrar um remédio para fazê-la voltar a  sorrir e a falar novamente.

Certa manhã, eles encontraram um velho livro abandonado à porta da casa, mas que estava fechado com um cadeado. Passaram os sete dias seguintes a tentar abri-lo, mas sempre em vão. Até que no sétimo dia encontraram uma pequena chave em cima da mesa da cozinha.

O filho logo exclamou:

- Deve ser a chave do livro velho!

Ele correu imediatamente com a chave na mão para abrir o cadeado do livro e este, como por magia, abriu-se numa página onde se podia ler: ". Quando uma pessoa perde o sorriso e a alegria de viver, apenas uma jornada para além dos mares a pode curar"

O irmão decide levar a sua irmã para o mar. Mas primeiro tinha que atravessar um deserto. Provisões e garrafas de água são embalados e armazenadas no jipe da família.

Uma tempestade de areia obriga-os a parar. Quando o céu volta a ficar claro, eles não reconhecem o caminho. Nem um único arbusto, nem um único oásis no horizonte. Eles estão perdidos! Os alimentos e a água começam a escassear. De seguida, o carro fica sem combustível.

Em pânico, o irmão decide deixar a sua irmã muito enfraquecida sob uma lona, fora do carro, para ir a pé pedir ajuda. Areia, nada mais além de areia, é o que o rodeia. Um grande medo apodera-se dele e um turbilhão de lágrimas teima em se abeirar dos seus olhos. De repente, ele julga avistar um vulto escuro a mover-se na crista de uma duna. "Uma miragem", pensa ele. Mas logo surge um homem com uns olhos negros ao seu lado, usando um turbante azul.

- Por favor, ajude-me. Preciso de água e comida para a minha irmã que está doente._ diz o jovem rapaz.

- Eu posso conseguir isso _ respondeu o homem_ mas de seguida, como forma de pagamento, terá de enfrentar o terrível Mestre do deserto.

O irmão tem pouca escolha, por isso concorda.

Imediatamente uma fonte brota a seus pés, formando uma lagoa com alguns peixes nadando na água clara. Espantado o rapaz vira-se para agradecer, mas já está sozinho: o misterioso homem tinha desaparecido.

Ele sacia a sua sede, enche uma cabaça e parte para junto de sua irmã.

Mas eis que no caminho de regresso surge à sua frente um esplêndido leão. "Eu sou o mestre do deserto. Como ousa beber da minha fonte?" Aterrorizado, o jovem balbucia:

_ Desculpa grande Mestre, apenas quero saciar a sede de minha irmã que está doente. Faço tudo o que pedires, mas deixa-me salvá-la.

_ O que podes tu fazer por mim?_ retorquiu o magnífico animal.

Nisto o rapaz enchendo-se de coragem declara:

_Posso ser o teu fiel amigo e a alegria da minha irmã pode animar os teus dias. Juntos podemos tornar os teus dias melhores.

O leão tinha pouco a perder e a coragem do jovem tinha-lhe tocado o coração. Decidiu deixá-lo partir e segui-lo de longe.

Ao chegar perto da irmã, o jovem rapaz estendeu-lhe o cantil. A jovem bebeu, mas algumas gotas caíram na areia. De repente, uma lagoa começa a formar-se e novamente peixes surgem nas águas claras. Estupefacta, a menina olha para a água, senta-se na margem e apanha uma concha. Ela encosta-a ao seu ouvido e um sorriso ilumina o seu rosto.

_Olha_ diz ela para o irmão_ ouvir esta música é maravilhosa!

 Ela ri, canta, dança, corre na praia. Uma alegria invade o jovem rapaz e ao longe o leão presencia a cena. Nada mais belo do que o amor de irmãos!