terça-feira, 22 de abril de 2025

Percurso literário (biografia e bibliografia)

     Há momentos em que gostamos de partilhar o nosso percurso. A partir de um trabalho realizado pelo meu sobrinho Daniel, partilho aqui a minha biografia e bibliografia mais atualizada.

Agostinha Monteiro nasceu no dia 06 de maio de 1970, na freguesia da Cortiçada, no concelho de Aguiar da Beira. Com apenas um mês, foi para França (Nevers), onde a sua família vivia, e viveu lá até aos 12 anos. Quando regressou a Portugal, frequentou o antigo colégio “Externato Frei Joaquim Rosa Viterbo”. Criança alegre e divertida, nunca descurou a escola e pautou o seu percurso académico pela excelência. Ingressa na Escola Secundária Alves Martins para concluir o ensino secundário.

Inspirada pelo seu professor de Literatura Portuguesa, Gustavo Barosa, candidata-se à Universidade de Coimbra onde se licencia em Línguas e Literaturas Modernas – Variante de Português e Francês. Durante os anos da faculdade vai desenvolvendo o seu gosto pelas línguas e pela escrita, frequentando cadeiras opcionais como Russo ou Estudos Camonianos. Após o estágio que realiza no Liceu D. Duarte, em Coimbra, concorre ao concurso para colocação de professores e fica colocada em Aguiar da Beira durante o ano letivo de 1994/1995. Não dá aulas no antigo colégio, mas sim na nova escola, Padre José Augusto da Fonseca. No ano seguinte dá aulas na escola secundária de Figueiró dos Vinhos e entra no Mestrado de Literaturas Comparadas, na Universidade de Letras de Coimbra. No ano letivo de 1996/1997, decide mudar-se para o Norte. Leciona na E.B.2,3 de Medas (Gondomar) durante 5 anos. Aí orienta estágio de Português e, simultaneamente, candidata-se a um Mestrado em Educação, mais precisamente em Supervisão Pedagógica em Ensino do Português, na Universidade do Minho, o qual conclui com distinção. Durante o último ano do Mestrado beneficia de um ano sabático e nasce a sua primeira filha. Vive o ano sabático em Aguiar da Beira e é, nessa altura, convidada para integrar as listas do PSD como Candidata à Assembleia Municipal, papel que desempenhará de 2002 a 2017, principalmente na qualidade de 2ª secretária. É como membro desse órgão que integrará a CPCJ de Aguiar da Beira de 2002 a 2009.

 Tendo a sua residência em Vila Nova de Gaia, pede destacamento para a E.B,2, 3 da Madalena e no ano seguinte para a E.B.2,3 de Santa Marinha. Nesse ano, nasce o seu segundo filho. Tendo acabado os destacamentos entre concelhos contíguos, vê-se obrigada a lecionar na E.B.2,3 de Rio Tinto, onde acaba voluntariamente por ficar de 2005 a 2017. Para além da docência, vai repartindo a sua atividade profissional pela formação, quer como formadora do IAVE quer como formadora de Centros de Formação de professores, e pela tradução, principalmente no Tribunal Judicial de Vila Nova de Gaia. Em 2017, muda-se para a escola Secundária Dr. Joaquim Ferreira Alves, em Valadares, Vila Nova de Gaia, para estar em casa e dar um melhor acompanhamento aos filhos.


A obra de Agostinha Monteiro

É durante o seu percurso por Rio Tinto que é incentivada pelas colegas a publicar os seus textos. Aconselhada por outras escritoras, estabelece contacto com uma editora local a “Mosaico de Palavras”, por ser uma editora familiar respeitável e com quem vai desenvolver uma genuína amizade.

Em 2010, começa por publicar uma investigação, sobre os processos de escrita e a importância dos articuladores discursivos, realizada durante o seu Mestrado com o título Aprender a Escrever, mecanismos de estruturação textual. Nesta obra, a autora mostra que a produção de um texto coerente não é o dom exclusivo de uma minoria, mas uma capacidade ao alcance de qualquer sujeito alfabetizado a quem sejam propiciadas condições de aprendizagem adequadas. A possibilidade de a escrita ser ensinada / aprendida nas aulas de Português, espaço por excelência deste processo, pressupõe o conhecimento e a mobilização de meios pedagógico-didáticos adaptados ao desenvolvimento da capacidade de expressão escrita. Desta forma, são analisados os mecanismos de estruturação textual, nomeadamente, os elementos e os processos que garantem a coesão e a coerência de um texto em alunos do sétimo ano de escolaridade, aplicando-se uma estratégia de ensino da escrita baseada na facilitação do procedimento com o objetivo de desenvolver a capacidade de escrever.

Nesse mesmo ano, numa escrita mais lúdica, mas memorialista, participa com o conto “Ser Clandestino” na coletânea A Arte pela Escrita Três, conto esse inspirado nas vivências das gentes de Aguiar da Beira, durante as repressões impostas pela ditadura do Estado Novo.

Em 2011, publica a obra Lendas e Histórias de Aguiar da Beira, que mais não é do que uma recolha das lendas e de algumas histórias que povoam o concelho de Aguiar da Beira. Para a sua feitura, contactou os presidentes das juntas de freguesias e as pessoas mais idosas, de forma a permitir a representação de cada freguesia.

Tratando-se de um concelho desde sempre marcadamente rural, com vestígios da presença humana que remontam até ao IV milénio a.C., atravessado por pés de várias civilizações, desde romanos a visigodos e árabes, riscado pelas lutas da Reconquista Cristã e depois pelos ideais medievais, é assim natural que deste cruzamento de modos de viver e pensar tenha resultado um mosaico de lendas e histórias que compõem o imaginário de uma comunidade, revelando os sentimentos da sua cultura, resultado da mistura de tantas. Por isso, nasceram lendas com mouras, soldados, santos e princesas, lobisomens e simples figuras típicas do povo. Todo um acervo oral de lendas e «histórias» que, de certo modo, compunham a ordem do viver coletivo. Esta obra rapidamente esgotou.

Nesse mesmo ano, participa com o texto “O Caminho da Vida” na coletânea Imagens da Nossa Memória, com o poema “Vida” no Prêmio Literário Valdeck Jesus de Almeida Poesia 2010 e com o conto “Uma Questão de Amor” na coletânea A Arte pela Escrita Quatro.

      Em 2012, publica o seu primeiro livro de contos, a que dá o nome de Contos de Esperança. Nesta obra procura envolver o leitor ao longo de seis histórias, nas quais os seus protagonistas se movem na busca de uma felicidade que ultrapassa os limites do individualismo.

Conceição e Linda são crianças de condições sociais absolutamente diferentes, no entanto ambas se tornam mulheres decididas e altruístas, pois entregam, cada uma à sua maneira, as suas vidas a missões de ajuda aos mais desfavorecidos; Neca prova que os obstáculos e as dificuldades da vida são difíceis de ultrapassar, mas que há sempre uma segunda oportunidade para tudo, mesmo para o amor; Lucas, o menino louro de olhos azuis, transforma, milagrosamente, o mundo da guerra num vasto mundo de amor, amizade e fraternidade; Miriam, criança de lindo sorriso, descobre, através da história fantástica que a mãe lhe conta, que a persistência conduz à realização dos sonhos; e, finalmente, a professora de Língua Portuguesa mostra que o amor e a amizade entre os seres que estão próximos são os alicerces necessários para edificar a existência de qualquer ser humano.

A leitura destes contos torna-se comovente, porque, com uma linguagem deliciosamente simples, capaz de desvendar os mais secretos significados da vida, a escritora aponta diretamente à essência da natureza humana e a valores de justiça e de responsabilidade, tão fundamentais como a perseverança, a solidariedade, o amor e a amizade.

      Nesse mesmo ano, participa com um texto de homenagem ao grande escritor brasileiro Jorge Amado intitulado “Jorge Amado” e publicado no  Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – Homenagem ao Centenário de nascimento de Jorge Amado (1912-2012). Participa também com dois poemas “Inspiração” e “O Coração” na coletânea A Arte pela Escrita Cinco.

De 2013 a 2016, a sua produção literária abranda e mantem apenas a sua parceria com a editora Mosaico de Palavras, produzindo um conto para cada uma das suas coletâneas anuais.  Desta forma, escreve os seguintes contos “Dia fatal”, publicado em 2013, em A Arte pela Escrita Seis; “O teu conhecimento é a tua riqueza” em 2014, publicado em A Arte pela Escrita Sete; Amor de irmãos” em 2015, publicado em A Arte pela Escrita Oito, e “O tempo pode mudar, mas a amizade deve permanecer”, publicado em 2016, na coletânea A Arte pela Escrita Nove.

Apesar de ter uma vida modesta, é convidada para falar da sua escrita na Feira do Livro do Porto e em várias escolas. Já foi homenageada pela Câmara Municipal de Aguiar da Beira no dia do Município, em 2016 .

Em 2017, participa com poemas e um conto em várias coletâneas. Escreve o conto “O tolo e o rouxinol”, publicado em A Arte pela Escrita Dez, e os poemas “A Marca”, publicado em Poemário 2017, Viver em Felicidade”, publicado em Deixa-me ser Poesia e “Amar para Sempre”, publicado na antologia Perdidamente II. 

Devido aos seus múltiplos afazeres profissionais, acumulando a partir de 2017 o de coordenadora de diversos projetos Erasmus+, interrompe as suas produções literárias.

    Mas 2020 muda este interregno e, estando obrigada ao confinamento devido à pandemia da COVID-19, retoma as suas produções literárias. Decide dedicar-se mais à poesia e, desde esse ano, participa, regularmente, em várias antologias poéticas e em coletâneas. Prepara o seu primeiro livro de poesia Dedilhando poesia, que virá a ser publicado em 2021.

Nesse mesmo ano decide dar alguns «retoques» em alguns contos já publicados e faz a sua tradução para francês e inglês. Assim nasce o seu segundo livro de contos, numa edição trilingue, Contos fabulásticos, que acabará por ser publicado em 2022. Este será também o ano da publicação do seu segundo livro de poesia Vidas em devir, numa edição bilingue.

Em 2023 e 2024 abraça um novo desafio, da editora Artelogy, e escreve dois contos infantojuvenis O Quarteto Det do Colégio Invicta- o caso dos lanches desaparecidos e O fenómeno das flores inodoras respetivamente.

Em súmula, Agostinha Monteiro é uma escritora aguiarense, com amor profundo a Vila Nova de Gaia e ao Porto, que reparte o seu amor entre a família e as suas atividades profissionais e cívicas, procurando sempre encontrar o seu espaço na escrita. Preocupada com a transmissão de valores, tenta sempre deixar uma mensagem de esperança e de amor nos seus textos.

Como ela costuma dizer, a escrita é a memória futura que perdurará quando já não estivermos cá.”

 

Bibliografia

Publicações individuais

(2024). O fenómeno das flores inodoras. Vila Nova de Gaia: Editora Artelogy

(2023). O Quarteto Det do Colégio Invicta- o caso dos lanches desaparecidos. Vila Nova de Gaia: Editora Artelogy.

(2022). Vidas em devir (Edição bilingue). Vila Nova de Gaia: Editora Artelogy.

(2022). Contos Fabulásticos (Edição trilingue). Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2021). Dedilhando Poesia. Vila Nova de Gaia: Poesia Fã Clube.

(2012). Contos de Esperança. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2011). Lendas e Histórias de Aguiar da Beira. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2010). Aprender a Escrever, mecanismos de estruturação textual. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

 

Publicação em coletâneas:

(2025) “Os alicerces do futuro”, “Um mundo melhor” e “Amar o próximo”, in Coletânea Um mundo melhor: o sonho que podemos realizar. Andrómeda Senlleira.

(2025) “Viver intensamente”, in Todo o Sal do Mar- coletânea Cordel D’Prata. Carnaxide: Cordel D’Prata

(2025) “Serenidade”, “Ode à vida” e “A leveza do ser”, in Um Quarto de Poesia. NoTag Editora

(2025) “A luz da Bondade”, “Bondade” e “Plenitude” in Alma LatinaColetânea de Autores Latinos no Mundo, vol. 6, coordenação José Maria Ramada. Braga: Oficina de São José.

(2025) “Fragmentos de amor”, in Três quartos de um amor. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “O Encanto de Natal”, in Natal em palavras. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “O caminho”, “Um caminho de felicidade e altruísmo” e “Em busca de ti”, in Coletânea Caminho-Décima Colectânea Internacional. Andrómeda Senlleira.

(2024) "Na última viagem", in Antologia Entre o sono e o sonho, vol. XVI. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “Reencontro inesperado” in Olá Contos. NoTag Editora.

(2024) “Sê feliz” in Alma LatinaColetânea de Autores Latinos no Mundo, vol. 5, coordenação José Maria Ramada. Braga: Oficina de São José.

(2024) “Para ti, Mãe” in Antologia Minha Mãe- Vol. I. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “Liberdade” in Antologia de Literatura Livre -Vol.III. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “Meu amor” in Três Quartos de Um Amor. Lisboa: Chiado Books.

(2024) “Amor incondicional”, “Amor ou amizade” e “Saudades, meu amor” in Olá, Poesia 3. NoTag Editora.

(2023) “Despedida” in Antologia Entre o sono e o sonho, vol. XV. Lisboa: Chiado Books.

(2023) “Dor sem ti” in Fragmentos de Saudade-Antologia de Literatura Portuguesa- Vol. 1”. Lisboa: Chiado Books.

(2023) “Vida escolhida” in Alma LatinaColetânea de Autores Latinos no Mundo, vol. 4, coordenação José Maria Ramada. Braga: Oficina de São José.

(2022) “Um dia… quando” in Antologia Entre o sono e o sonho, vol. XIV. Lisboa: Chiado Books.

(2022) “Empatia”, “Realidade” e “Viver em resiliência”, in Poemas de Primavera. Editora Coruja Dourada.

(2022) “Bom viver” e “Ilusão do sentir” in Alma LatinaColetânea de Autores Latinos no Mundo, vol. 3, coordenação José Maria Ramada. Braga: Oficina de São José.

(2021) “A força da natureza” in Antologia Letras da Alma. Brasil: Editora Cyberus

(2021) “Não à violência” in Eles não vão nos calar. Brasil, Curitiba: Editora Persona

(2021) “Pandemia na Poesia” in Pandemia na Poesia- XXIX Prêmio Moutonnée de Poesia. Brasil: Salto: Mirarte Editora

(2021) “A esperança da democracia” in Antologia Entre o sono e o sonho, vol. XIII. Lisboa: Chiado Books

(2021) “Terra de encanto”, “Tempos difíceis” e “Livre para viver” in World Contemporary Anthology 2021- LER 365. Porto Alegre/ Lisboa: Edições 365.

(2021) “O mar da minha alma” in Antologia Alma de mar. Lisboa: Chiado Books

(2021) “À beira-mar” in Antologia- A poesia dos dois lados do Atlântico. Porto: Artelogy

(2021) “Aniversário” in Antologia Literare- edição Maio 21. Quirinópolis: Editora IGM 

(2021) “Enquanto há vida… há esperança” in Antologia Literare- edição Abril 21. Quirinópolis: Editora IGM 

(2021) “Maravilhosa natureza” in Antologia Intercontinental O Mundo é Poesia, organizador Gercimar Martins. Goiânia: Antologias Brasil.

(2021) “Profond regard”, “Aimer en silence”, “L’indifférence du présent”, “O teu legado”, “Esperança” e “Apenas o amor” in Segunda Antologia Escritores Eleutheros, Mar del Prata: Editorial Escritores Eleutheros

(2021) “Liberdade”, in II Volume da Antologia Liberdade. Lisboa: Chiado Books

(2021) “ Os dias não são sempre belos”, in Inventário dos Poetas Portugueses - Antologia do País da Poesia. Vila Nova de Gaia: Poesia Fã Clube

(2021) “Vida singela” in Antologia Escritores da Língua Portuguesa 7. ZL Books

(2021) “Nova Realidade” in Alma LatinaColetânea de Autores Latinos no Mundo, vol. 2, coordenação José Maria Ramada. Braga: Oficina de São José.

(2021) “E depois” in Antologia Literare- edição Janeiro 21. Quirinópolis: Editora IGM 

(2020) “Sonho” in Antologia Entre o sono e o sonho. Lisboa: Chiado Books

(2020). “Só o tempo” in Antologia RAÍZES DO CONHECIMENTO - POEMAS DO CORAÇÃO III, organizador Cláudio Mendes. Quirinópolis: Editora IGM

(2020). “Carpe diem” in Quarentena - Memórias de um país confinado, Lisboa: Chiado Books.

(2017). “O tolo e o rouxinol ” in A Arte pela Escrita Dez. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2017). “Amar para Sempre” in Perdidamente II. Pastelaria Studios Editora

(2017). “Viver em Felicidade” in Deixa-me ser Poesia. Pastelaria Studios Editora

(2017). “A Marca” in Poemário 2017. Pastelaria Studios Editora

(2016). “O tempo passa, mas a amizade deve permanecer” in A Arte pela Escrita Nove. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2015). “Amor de irmãos” in A Arte pela Escrita Oito. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2014). “ O teu conhecimento é a tua riqueza” in A Arte pela Escrita Sete. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2013). “Dia fatal” in A Arte pela Escrita Seis. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2012). “Jorge Amado” in Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – Homenagem ao Centenário de nascimento de Jorge Amado (1912-2012). Perse.

(2012). “Inspiração” e “O Coração” in A Arte pela Escrita Cinco. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2011). “Uma Questão de Amor” in A Arte pela Escrita Quatro. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2011). “Vida” in Prêmio Literário Valdeck Jesus de Almeida Poesia 2010. Giz Editorial.

(2011). “O Caminho da Vida” in Imagens da Nossa Memória. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.

(2010). “Ser clandestino” in A Arte pela Escrita Três. Rio Tinto: Mosaico de Palavras Editores.


terça-feira, 8 de abril de 2025

"A leitura como baluarte da consciência e como arma de luta"- in Jornal impressões da ESDJGFA

 

Texto que escrevi para o jornal escolar Impressões, para assinalar a Semana da Leitura que se comemorou de 31 de março a 4 de abril de 2025.

Bill Charmatz (pormenor) em http://osilenciodoslivros.blogspot.com

Mas... será que a leitura é ainda importante? Qual o seu papel numa sociedade cada vez mais tecnológica, onde a Inteligência Artificial ganha cada vez mais notoriedade?

 Pois bem, num mundo cada vez mais dominado pela fugacidade da informação e pela superficialidade do conhecimento, a leitura emerge como um instrumento fundamental na luta pela preservação do pensamento crítico e da autonomia intelectual. Longe de ser um mero passatempo ou uma atividade lúdica, o ato de ler configura-se como uma verdadeira arma na batalha contra a ignorância, a manipulação e o obscurantismo.

A leitura, enquanto prática sistemática e reflexiva, proporciona ao indivíduo um vasto arsenal de ideias, conceitos e perspetivas que lhe permitem analisar a realidade de forma mais profunda e multifacetada. Através dos livros, sejam eles obras de ficção ou de não-ficção, o leitor tem acesso a um manancial de conhecimentos que transcendem as barreiras do tempo e do espaço, permitindo-lhe estabelecer conexões entre diferentes épocas, culturas e correntes de pensamento.

Num contexto sociopolítico marcado pela proliferação de discursos simplistas e pela polarização ideológica, a leitura assume-se como um antídoto contra o dogmatismo e o sectarismo. Ao expor-se a diferentes pontos de vista e argumentos, o leitor desenvolve a capacidade de questionar as suas próprias convicções e de considerar perspetivas alternativas, fomentando assim um espírito de abertura e tolerância intelectual. Ademais, a leitura constitui um poderoso instrumento de resistência contra as forças que procuram limitar o acesso ao conhecimento ou impor narrativas hegemónicas. Num mundo onde a informação é frequentemente filtrada e manipulada por algoritmos e interesses corporativos, os livros oferecem um espaço de liberdade e autonomia intelectual, permitindo ao leitor explorar temas e ideias que podem estar ausentes ou sub-representados nos meios de comunicação.

A prática regular da leitura contribui ainda para o desenvolvimento de competências essenciais para a participação ativa e informada na vida cívica e democrática. Ao aprimorar a capacidade de compreensão, análise e argumentação, a leitura capacita os cidadãos para intervir de forma mais efetiva nos debates públicos e para exercer um escrutínio crítico sobre as ações dos poderes instituídos.

Por fim, importa salientar que a leitura, enquanto arma de luta, não se esgota na dimensão individual. O ato de ler e de partilhar conhecimentos adquiridos através dos livros pode ter um efeito multiplicador, contribuindo para a elevação do nível cultural e intelectual da sociedade como um todo. Neste sentido, a promoção da leitura e o acesso universal aos livros devem ser encarados como imperativos éticos e políticos, fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, esclarecida e emancipada.

Em suma, num mundo cada vez mais complexo e desafiante, a leitura afigura-se como uma arma silenciosa, mas poderosa, na luta pela preservação da liberdade de pensamento e pela construção de um futuro mais luminoso e promissor.

Que cada livro seja, pois, uma trincheira na batalha pela emancipação intelectual e pela dignificação da condição humana.