terça-feira, 8 de abril de 2025

"A leitura como baluarte da consciência e como arma de luta"- in Jornal impressões da ESDJGFA

 

Texto que escrevi para o jornal escolar Impressões, para assinalar a Semana da Leitura que se comemorou de 31 de março a 4 de abril de 2025.

Bill Charmatz (pormenor) em http://osilenciodoslivros.blogspot.com

Mas... será que a leitura é ainda importante? Qual o seu papel numa sociedade cada vez mais tecnológica, onde a Inteligência Artificial ganha cada vez mais notoriedade?

 Pois bem, num mundo cada vez mais dominado pela fugacidade da informação e pela superficialidade do conhecimento, a leitura emerge como um instrumento fundamental na luta pela preservação do pensamento crítico e da autonomia intelectual. Longe de ser um mero passatempo ou uma atividade lúdica, o ato de ler configura-se como uma verdadeira arma na batalha contra a ignorância, a manipulação e o obscurantismo.

A leitura, enquanto prática sistemática e reflexiva, proporciona ao indivíduo um vasto arsenal de ideias, conceitos e perspetivas que lhe permitem analisar a realidade de forma mais profunda e multifacetada. Através dos livros, sejam eles obras de ficção ou de não-ficção, o leitor tem acesso a um manancial de conhecimentos que transcendem as barreiras do tempo e do espaço, permitindo-lhe estabelecer conexões entre diferentes épocas, culturas e correntes de pensamento.

Num contexto sociopolítico marcado pela proliferação de discursos simplistas e pela polarização ideológica, a leitura assume-se como um antídoto contra o dogmatismo e o sectarismo. Ao expor-se a diferentes pontos de vista e argumentos, o leitor desenvolve a capacidade de questionar as suas próprias convicções e de considerar perspetivas alternativas, fomentando assim um espírito de abertura e tolerância intelectual. Ademais, a leitura constitui um poderoso instrumento de resistência contra as forças que procuram limitar o acesso ao conhecimento ou impor narrativas hegemónicas. Num mundo onde a informação é frequentemente filtrada e manipulada por algoritmos e interesses corporativos, os livros oferecem um espaço de liberdade e autonomia intelectual, permitindo ao leitor explorar temas e ideias que podem estar ausentes ou sub-representados nos meios de comunicação.

A prática regular da leitura contribui ainda para o desenvolvimento de competências essenciais para a participação ativa e informada na vida cívica e democrática. Ao aprimorar a capacidade de compreensão, análise e argumentação, a leitura capacita os cidadãos para intervir de forma mais efetiva nos debates públicos e para exercer um escrutínio crítico sobre as ações dos poderes instituídos.

Por fim, importa salientar que a leitura, enquanto arma de luta, não se esgota na dimensão individual. O ato de ler e de partilhar conhecimentos adquiridos através dos livros pode ter um efeito multiplicador, contribuindo para a elevação do nível cultural e intelectual da sociedade como um todo. Neste sentido, a promoção da leitura e o acesso universal aos livros devem ser encarados como imperativos éticos e políticos, fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa, esclarecida e emancipada.

Em suma, num mundo cada vez mais complexo e desafiante, a leitura afigura-se como uma arma silenciosa, mas poderosa, na luta pela preservação da liberdade de pensamento e pela construção de um futuro mais luminoso e promissor.

Que cada livro seja, pois, uma trincheira na batalha pela emancipação intelectual e pela dignificação da condição humana.