Texto que escrevi para o jornal escolar Impressões, para assinalar a Semana da Leitura que se comemorou de 31 de março a 4 de abril de 2025.
Mas... será que a leitura é ainda importante? Qual o seu papel
numa sociedade cada vez mais tecnológica, onde a Inteligência Artificial ganha
cada vez mais notoriedade?
Pois bem, num mundo cada
vez mais dominado pela fugacidade da informação e pela superficialidade do
conhecimento, a leitura emerge como um instrumento fundamental na luta pela
preservação do pensamento crítico e da autonomia intelectual. Longe de ser um
mero passatempo ou uma atividade lúdica, o ato de ler configura-se como uma
verdadeira arma na batalha contra a ignorância, a manipulação e o
obscurantismo.
A leitura, enquanto prática sistemática e reflexiva, proporciona
ao indivíduo um vasto arsenal de ideias, conceitos e perspetivas que lhe
permitem analisar a realidade de forma mais profunda e multifacetada. Através
dos livros, sejam eles obras de ficção ou de não-ficção, o leitor tem acesso a
um manancial de conhecimentos que transcendem as barreiras do tempo e do
espaço, permitindo-lhe estabelecer conexões entre diferentes épocas, culturas e
correntes de pensamento.
Num contexto sociopolítico marcado pela proliferação de
discursos simplistas e pela polarização ideológica, a leitura assume-se como um
antídoto contra o dogmatismo e o sectarismo. Ao expor-se a diferentes pontos de
vista e argumentos, o leitor desenvolve a capacidade de questionar as suas
próprias convicções e de considerar perspetivas alternativas, fomentando assim
um espírito de abertura e tolerância intelectual. Ademais, a leitura constitui
um poderoso instrumento de resistência contra as forças que procuram limitar o
acesso ao conhecimento ou impor narrativas hegemónicas. Num mundo onde a
informação é frequentemente filtrada e manipulada por algoritmos e interesses
corporativos, os livros oferecem um espaço de liberdade e autonomia
intelectual, permitindo ao leitor explorar temas e ideias que podem estar
ausentes ou sub-representados nos meios de comunicação.
A prática regular da leitura contribui ainda para o
desenvolvimento de competências essenciais para a participação ativa e
informada na vida cívica e democrática. Ao aprimorar a capacidade de
compreensão, análise e argumentação, a leitura capacita os cidadãos para
intervir de forma mais efetiva nos debates públicos e para exercer um
escrutínio crítico sobre as ações dos poderes instituídos.
Por fim, importa salientar que a leitura, enquanto arma de luta,
não se esgota na dimensão individual. O ato de ler e de partilhar conhecimentos
adquiridos através dos livros pode ter um efeito multiplicador, contribuindo
para a elevação do nível cultural e intelectual da sociedade como um todo.
Neste sentido, a promoção da leitura e o acesso universal aos livros devem ser
encarados como imperativos éticos e políticos, fundamentais para a construção
de uma sociedade mais justa, esclarecida e emancipada.
Em suma, num mundo cada vez mais complexo e desafiante, a
leitura afigura-se como uma arma silenciosa, mas poderosa, na luta pela
preservação da liberdade de pensamento e pela construção de um futuro mais
luminoso e promissor.
Que cada livro seja, pois, uma trincheira na batalha pela
emancipação intelectual e pela dignificação da condição humana.